23/06/2017

CARLA ISIDORO

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Supermercados futuristas: 
Fila para pagar 
vai ser coisa do passado

Ir às compras e não ter filas de atendimento ou para pagar. É o cenário perfeito, certo? A Amazon pensou nisso e criou uma solução

Nascerá em breve o supermercado dos meus sonhos.

Não sou a típica consumidora que gosta de fazer compras em supermercados ou hipermercados, que deambula pelos corredores com calma puxando o cesto ou empurrando o carrinho de compras como se não houvesse amanhã. Sou obrigada a ir ao hipermercado todas as semanas fazer uma compra específica, mas esta ida semanal é sempre um transtorno. Tira-me muito mais tempo do que aquele que desejo gastar efetivamente. Seja porque há cinco pessoas à minha frente no balcão para pedir ou porque estão cinco à minha frente nas caixas para pagar, ou porque o híper está cheio de pessoas com carrinhos que ocupam demasiado os corredores e isto atrapalha muito a navegação de quem tem pressa. Pensando em consumidores com perfil e comportamento idênticos ao meu, a Amazon decidiu criar o Amazon Go, o supermercado do futuro.

Está isento de filas, registos e caixas. É mesmo assim e vai ser realidade em breve. Tal como acontece no Metro, onde que temos de passar o cartão no torniquete para entrar na zona da gare, no Amazon Go passamos o smartphone (com a app instalada) na entrada, pegamos nos produtos que queremos, a tecnologia faz o registo automático sem nos apercebermos, saímos da loja tranquilamente e o débito é feito no cartão de crédito associado ao nosso registo.

É um método cómodo e simples para o utilizador, e assim ir às compras é algo descomplicado como beber um copo de água. Ao invés de sentirmos que nos roubam tempo, sentimos consideração relacionada à necessidade de entrar numa loja para comprar. Não há filas de espera para pedir, não há filas de espera para pagar. Na realidade, nem haverá torniquetes na entrada.

Acredito que este sistema venha transformar a maneira de pensar dos supers e hipers comuns que, apesar da preocupação com este assunto e dos esforços já feitos, ainda não encontraram soluções verdadeiramente convenientes para consumidores grab and go ou para aqueles que gostam de ir às compras mas ficam desesperados com o tempo que gastam nas lojas. Fazer compras pode ser um prazer e apesar da conveniência que o e-commerce trouxe ao consumidor entrar fisicamente numa loja para ver, tocar, provar, vestir, continua a ser uma experiência pessoal que pode ser bastante positiva. Já há marcas a investir em novas soluções para que as montras das lojas sejam interativas e proporcionem experiências apelando ao consumidor para entrar.

A atualização deve ser rápida para acompanharem as necessidades do consumidor contemporâneo que não pode nem quer ver-se forçado a esperar demasiado para obter ou pagar um produto. O tempo analógico deve ir ao encontro do tempo digital para que o fosso da insatisfação diminua.

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Comecei a trabalhar em 1995 na revista do jornal A Bola enquanto tirava a licenciatura. Tive um ótimo editor que me pôs a entrevistar figuras de destaque da cultura portuguesa e a escrever sobre assuntos diversos, e esta experiência foi de extrema importância porque me deu confiança para escrever sobre (quase) qualquer coisa. Colaborei para diferentes media sobre viagens, música, cultura contemporânea, culturas africanas, comportamento, tendências de consumo, etc. Hoje sou gestora de comunicação independente para negócios, marcas e projetos artísticos. Defendo a importância de uma boa história na comunicação de qualquer marca e de conteúdos alinhados com os valores da cultura onde ela se insere. 

O antropólogo Igor Kopytoff diz que os objetos têm histórias de vida apesar de serem coisas. E eu concordo com ele. Se as histórias alimentaram o nosso imaginário em criança, na vida adulta elas continuam a inspirar-nos, a tocar-nos e a dinamizar o mercado. Quem não gosta delas? Sou licenciada em Ciências da Comunicação e pós graduada em Antropologia na vertente Cultura Material e Consumo.

IN "VISÃO"
14/06/17

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