19/06/2017

JOANA PETIZ

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Contar outra história

A história triste repete-se todos os anos, com o número de afogamentos a causar choque, mas sem que se alterem os pressupostos que ajudam a que esta realidade se mantenha. Neste ano, em que apesar de tudo ainda não houve muitos dias de verdadeiro calor, o número de vítimas já ultrapassa os 40.

São apenas os casos que acabaram pior os que entram nesta negra contabilidade, muitos deles miúdos pequenos que não resistiram à força das correntes ou ficaram presos nalguma raiz escondida no fundo de um rio ou que foram traídos por um fundão ou um remoinho.

Hoje, 13 de junho, e numa semana em que muitos portugueses aproveitaram os feriados para se escaparem até um destino de sol e mar, há ainda dezenas de praias sem vigilância; em certas zonas, esta só é designada a 15 de julho - sem contar com as correntezas de água que nunca a chegam a ter.

E algumas apenas a têm porque os concessionários que ali fazem negócio reconhecem que é preferível avançarem eles próprios do que esperar que quem é de facto responsável se mexa. É que o preço de, ano após ano, atrasar o arranque da época balnear na melhor das hipóteses para meados de maio, com justificações como a falta de dinheiro ou o facto de não haver clientes a banhos que justifiquem presença permanente, é demasiado caro.

Num país de turismo e que hoje se gaba de ter gente a chegar a estas paragens o ano inteiro, em que o surf e os desportos náuticos são cada vez mais populares, se não o fazemos pelos nossos, pelo menos por aqueles que nos visitam deveríamos mudar. E essa mudança implica uma decisão simples: a de prolongar o que chamamos época balnear pelo menos aos períodos de férias tradicionais - fim de ano, Carnaval, Páscoa... - e aos seis meses de maior calor.

Não partindo do princípio de que só na linha de Cascais, na Costa de Caparica e a sul há gente nas praias, mas antes tendo a certeza de que toda a nossa costa e algumas barragens e rios são crescentemente atrativos quer para portugueses quer para estrangeiros que nos visitam. É preciso mudar, para que se consiga começar a contar outra história.

IN "DIÁRIO DE NOTÍCIAS"
13/06/17

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